Saiba como montar uma carteira só com ETFs brasileiros
Você já sentiu que escolher ações individuais é como procurar uma agulha em um palheiro? Ou talvez você tenha percebido que a maioria dos fundos de investimento cobra taxas altas demais para entregar resultados medíocres. Se você busca simplicidade, diversificação e baixo custo, a resposta pode estar em três letras: ETF.
Neste guia definitivo, você vai descobrir como montar uma carteira só com ETFs brasileiros (negociados na B3), transformando sua vida financeira sem precisar passar horas analisando balanços de empresas. Vamos explorar desde o básico até estratégias avançadas de alocação, tudo explicado de forma simples para quem está começando agora.
O que são ETFs e por que eles são a revolução dos investimentos na B3?

Antes de montarmos a carteira, precisamos entender a ferramenta. ETF é a sigla para Exchange Traded Fund, ou Fundo de Índice. Imagine um ETF como uma “cesta” de ativos. Ao comprar uma única cota dessa cesta, você está automaticamente comprando pedacinhos de dezenas ou até centenas de ativos diferentes.
Diferente dos fundos tradicionais que você contrata no banco, os ETFs são negociados na bolsa de valores (B3) como se fossem ações. Eles têm um código (ticker), como BOVA11 ou IVVB11, e o preço oscila durante o dia.
As 3 Vantagens Matadoras dos ETFs para o Pequeno Investidor
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Diversificação Instantânea: Com menos de R$ 100,00, você pode se expor às 80 maiores empresas do Brasil ou às 500 maiores dos EUA. Fazer isso comprando ação por ação exigiria milhares de reais.
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Custo Baixíssimo: A taxa de administração dos ETFs costuma ser muito menor que a dos fundos de investimento tradicionais (muitos cobram menos de 0,30% ao ano, enquanto fundos ativos cobram 2% + taxa de performance).
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Transparência e Liquidez: Você sabe exatamente o que o índice compõe e pode vender suas cotas a qualquer momento durante o pregão.
A Estratégia dos Grandes: Por que montar uma carteira 100% em ETFs?
Muitos investidores iniciantes acreditam que precisam fazer Stock Picking (escolher a ação vencedora) para ganhar dinheiro. A verdade, apoiada por décadas de estudos, é que a alocação de ativos (quanto você tem em renda fixa, ações, internacional, etc.) é muito mais importante do que qual ação específica você compra.
Montar uma carteira só com ETFs permite que você foque no macro (a estratégia) e esqueça o micro (a fofoca do mercado).
Passividade Inteligente vs. Atividade Estressante
Ao optar por ETFs, você adota uma gestão passiva. Você não tenta vencer o mercado; você compra o mercado. Estatisticamente, a maioria dos gestores profissionais não consegue vencer o índice de referência no longo prazo. Se os profissionais falham, por que arriscar seu patrimônio tentando fazer melhor?
Mapeando o Terreno: Os Tipos de ETFs Disponíveis na B3
Para montar uma carteira equilibrada, precisamos conhecer os ingredientes. A B3 evoluiu muito e hoje temos ETFs para quase todas as classes de ativos.
1. ETFs de Renda Variável Brasil (Ações Nacionais)
Estes fundos replicam índices de ações brasileiras.
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BOVA11 / BRAX11: Replicam o Ibovespa ou IBrX-100. São o “arroz com feijão” da bolsa brasileira. Representam as maiores empresas do país.
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SMAL11: Foca nas Small Caps (empresas de menor capitalização), que tendem a ter maior potencial de crescimento, mas também maior risco.
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DIVO11: Foca em empresas que são boas pagadoras de dividendos.
2. ETFs de Renda Fixa (Segurança e Estabilidade)
Sim, existem ETFs de Renda Fixa! Eles são ótimos para simplificar a gestão dos títulos públicos.
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IMAB11: Replica uma cesta de títulos do Tesouro IPCA+ (proteção contra inflação).
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IRFM11: Replica uma cesta de títulos pré-fixados.
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LFTS11: Segue o desempenho do Tesouro Selic. É ideal para caixas mais conservadores (mas atenção à liquidez D+1 ou D+0 dependendo da corretora).
3. ETFs Internacionais (Proteção em Dólar)
Essenciais para não deixar todo o seu dinheiro dependente da economia brasileira.
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IVVB11 / SPXI11: Replicam o S&P 500 (as 500 maiores empresas dos EUA). É a forma mais fácil de dolarizar parte do patrimônio.
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WRLD11: Investe em empresas do mundo todo (desenvolvidos e emergentes). É a diversificação global definitiva.
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NASD11: Foca na bolsa Nasdaq, pesada em tecnologia (Apple, Microsoft, Google).
4. ETFs de Fundos Imobiliários e Temáticos
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XFIX11: Segue o índice IFIX, representando o mercado de Fundos Imobiliários (FIIs). Nota: A maioria dos ETFs de FIIs na B3 reinveste os dividendos automaticamente, ao contrário de comprar o FII diretamente.
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HASH11: Um ETF de criptomoedas, oferecendo exposição a Bitcoin, Ethereum e outras moedas digitais de forma regulada.
Passo a Passo: Definindo sua Alocação de Ativos (Asset Allocation)

Agora que conhecemos os ativos, como misturá-los? Não existe uma receita única, mas vamos apresentar três modelos baseados em perfis de investidor.
O segredo de uma carteira só de ETFs é a descorrelação. Você quer ativos que se comportem de maneiras diferentes. Quando a bolsa cai, o dólar costuma subir. Quando os juros sobem, a renda fixa brilha. Ter tudo isso na carteira suaviza a volatilidade.
Perfil 1: O Investidor Conservador (Foco em Preservação)
Este investidor quer ganhar da inflação sem ver seu patrimônio oscilar muito bruscamente.
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70% Renda Fixa: IMAB11 (Inflação) e B5P211 (Inflação curto prazo, menos volátil).
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15% Ações Brasil: BOVA11.
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15% Internacional: IVVB11 (para proteção cambial).
Perfil 2: O Investidor Moderado (O Equilíbrio Ideal)
Busca crescimento de patrimônio no longo prazo, aceitando oscilações médias.
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40% Renda Fixa: IMAB11.
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25% Ações Brasil: BRAX11 (ou BOVA11) + um pouco de SMAL11.
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25% Internacional: IVVB11 ou WRLD11.
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10% Imobiliário/Alternativo: XFIX11.
Perfil 3: O Investidor Arrojado (Foco em Crescimento Total)
Tem horizonte de longo prazo (acima de 10 anos) e estômago para quedas de 30% ou mais.
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20% Renda Fixa: IMAB11 (apenas para estabilidade mínima).
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40% Internacional: IVVB11 e NASD11 (aposta na economia global e tecnologia).
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30% Ações Brasil: SMAL11 (pelo potencial de crescimento) e BOVA11.
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10% Cripto/Alternativos: HASH11.
Dica Pro: Perceba que em todas as carteiras incluímos o investimento internacional (IVVB11). O Brasil representa menos de 2% do mercado financeiro global. Ignorar o exterior é um erro grave de paroquialismo financeiro.
Tributação de ETFs: O Que Você Precisa Saber para Não Cair na Malha Fina
Este é um ponto crucial onde muitos iniciantes erram. A tributação de ETFs não é igual à de ações ou FIIs.
ETFs de Renda Variável (Ações)
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Alíquota: 15% sobre o lucro na venda.
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Sem Isenção: Diferente das ações, que têm isenção de IR para vendas até R$ 20.000,00 no mês, ETFs não têm isenção. Vendeu com lucro de 1 real? Tem que pagar DARF.
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Day Trade: 20% sobre o lucro.
ETFs de Renda Fixa
A tributação varia dependendo do prazo médio dos títulos da carteira do ETF.
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Geralmente segue uma alíquota fixa de 15% sobre o lucro para ETFs de longo prazo (prazo médio da carteira superior a 720 dias).
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Se o prazo médio for curto, pode chegar a 25%.
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Vantagem: Diferente dos fundos de renda fixa dos bancos, a maioria dos ETFs de renda fixa não tem come-cotas (aquela antecipação de imposto semestral), o que permite que os juros compostos trabalhem melhor.
A Polêmica dos Dividendos: ETFs Pagam ou Não?
Até pouco tempo atrás, a legislação brasileira impedia que ETFs pagassem dividendos diretamente na conta do investidor. Eles recebiam os dividendos das empresas e reinvestiam automaticamente comprando mais ações.
Isso é bom ou ruim?
Para quem está na fase de acumulação de patrimônio, é ótimo. Você não precisa pagar imposto sobre o dividendo recebido e não paga corretagem para reinvestir. É uma máquina de juros compostos automática.
No entanto, a regra mudou recentemente e já começaram a surgir os primeiros ETFs que pagam dividendos mensais (especialmente os ligados a índices de FIIs ou dividendos).
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Dica: Se você quer viver de renda passiva mensal, verifique se o ETF escolhido é “ACC” (Acumula) ou “DIST” (Distribui). Para a maioria dos iniciantes, os de acumulação são matematicamente mais eficientes tributariamente.
Como Fazer o Rebalanceamento da Carteira (O Segredo do Sucesso)

Montar a carteira é fácil. O difícil é mantê-la.
Digamos que você definiu sua carteira como 50% Ações (BOVA11) e 50% Renda Fixa (IMAB11).
Imagine que a bolsa subiu muito e a renda fixa ficou parada. Agora sua carteira está 60% Ações e 40% Renda Fixa. Você ficou mais arriscado do que planejou.
O que fazer? Rebalancear.
Você tem dois caminhos:
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Vender o que subiu: Vende um pouco de BOVA11 e compra IMAB11 até voltar ao 50/50. (Desvantagem: Paga imposto de renda no lucro).
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Aportar no que ficou para trás: Use seu dinheiro novo do mês para comprar apenas IMAB11, até que as proporções se ajustem. (Vantagem: Mais eficiente tributariamente).
O rebalanceamento obriga você a fazer o que é contra-intuitivo: comprar barato (o que caiu) e parar de comprar o que está caro (o que subiu demais).
Erros Comuns ao Investir em ETFs
Para garantir que seu site ofereça valor real, vamos alertar sobre as armadilhas.
1. Olhar apenas a Taxa de Administração
Nem sempre o ETF mais barato é o melhor. Você deve olhar também o Tracking Error (Erro de Aderência). Isso mede o quão bem o ETF consegue seguir o índice. Se o índice subiu 10% e o ETF subiu 8%, ele tem um erro alto, mesmo que a taxa seja baixa.
2. Ignorar a Liquidez
Alguns ETFs na B3 têm pouquíssimos negócios por dia. Se você precisar vender com urgência um ETF com baixa liquidez, pode ter que aceitar um preço muito abaixo do justo. Dê preferência aos ETFs com maior volume de negociação diária (Liquidez Média Diária).
3. Excesso de ETFs (Pulverização)
Não faz sentido ter BOVA11 (Ibovespa) e BRAX11 (IBrX-100) na mesma carteira. Eles têm uma correlação de quase 99%. Você está comprando a mesma coisa com nomes diferentes. Mantenha sua carteira enxuta. Uma carteira com 4 ou 5 bons ETFs é mais eficiente do que uma com 20.
Comparativo: Fundo de Investimento vs. Carteira de ETFs
Para o leigo entender a economia que fará, veja esta comparação simples:
| Característica | Fundo Multimercado Tradicional | Carteira de ETFs Própria |
| Taxa de Administração | Média de 2,0% ao ano | Média de 0,30% ao ano |
| Taxa de Performance | 20% sobre o que exceder o CDI | Zero |
| Resgate (Liquidez) | D+30 ou D+60 (comum) | D+2 (padrão da Bolsa) |
| Transparência | Carteira revelada após meses | Carteira conhecida diariamente |
| Autonomia | Gestor decide tudo | Você decide a alocação |
No longo prazo (10, 20 anos), essa diferença de taxas pode representar o preço de um apartamento ou um carro de luxo deixado na mesa para o banco.
Exemplo Prático: Simulando uma Compra na Corretora
Muitas pessoas travam na hora “H”. Veja como é simples:
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Abra sua conta na corretora: Escolha uma que não cobre taxa de corretagem para ETFs (a maioria das grandes corretoras digitais hoje é taxa zero).
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Transfira o dinheiro: Faça um PIX para sua conta na corretora.
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Acesse o Home Broker: Ou a área de “Bolsa”.
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Digite o Código: Por exemplo,
IVVB11. -
Defina a Quantidade: ETFs são negociados em lotes padrão (geralmente 1 cota hoje em dia, mas verifique se existe o mercado fracionário caso necessário).
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Verifique o Preço: Veja o preço de mercado e envie a ordem de compra.
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Pronto! Em dois dias úteis o ativo estará na sua custódia.
A Simplicidade é o Último Grau da Sofisticação

Montar uma carteira só com ETFs brasileiros é, talvez, a decisão financeira mais inteligente que um investidor pessoa física pode tomar. Ela elimina o ruído do mercado, reduz custos drasticamente, garante diversificação global e libera o seu ativo mais precioso: o tempo.
Em vez de gastar horas lendo relatórios trimestrais de empresas, você gasta minutos por mês apenas aportando e rebalanceando.
Lembre-se: Investimento não é sobre entretenimento ou emoção. Se você quer emoção, vá ao cassino. Investimento é sobre fazer seu dinheiro trabalhar de forma eficiente e chata para que você possa aproveitar a vida.
Comece hoje mesmo a estudar os tickers mencionados (BOVA11, IVVB11, IMAB11) e dê o primeiro passo para sua liberdade financeira através dos ETFs.