O que é amortização
Se você possui um financiamento imobiliário, um empréstimo de longo prazo ou está pensando em adquirir um bem de alto valor a prazo, o termo amortização será central na sua jornada financeira. Infelizmente, para muitas pessoas leigas em finanças, a amortização soa como um conceito complicado, envolvido em jargões bancários.
Na verdade, a amortização é o coração de qualquer dívida parcelada. Entender o que ela significa e, principalmente, como utilizá-la a seu favor, é o segredo para economizar milhares de reais em juros e conquistar sua liberdade financeira mais rapidamente.
Este artigo é um guia completo e acessível. Vamos desmistificar o que é amortização, como ela funciona nos principais sistemas de pagamento utilizados no Brasil (SAC e Tabela Price) e, o mais importante, como você pode usá-la de forma estratégica para reduzir o prazo ou o valor das parcelas do seu crédito.
Amortização Descomplicada: O Conceito Chave em Finanças

Em termos simples, Amortização é o processo de pagamento gradual de uma dívida (o capital principal) ao longo do tempo.
Imagine que você pegou um empréstimo de R$ 100.000,00. Este é o seu saldo devedor (o capital principal). Ao pagar uma parcela mensal, você não está pagando apenas a dívida em si; você está pagando a dívida mais os juros que incidem sobre ela.
A parcela que você paga é composta por três elementos principais:
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Juros: A remuneração cobrada pelo banco por ter emprestado o dinheiro.
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Amortização: A parte da parcela que diminui de fato o seu saldo devedor.
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Seguros/Taxas: Custos administrativos acessórios.
A mágica da amortização é que, a cada pagamento, seu saldo devedor fica menor. E se o saldo devedor fica menor, no mês seguinte, os juros calculados sobre ele também diminuem. É esse efeito que faz a sua dívida “andar para trás” e, eventualmente, ser quitada.
O Poder da Amortização Extra
Amortizar significa pagar o principal da dívida além do que está previsto na sua parcela mensal.
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Quando você faz uma amortização extra, o dinheiro que você paga vai direto para o saldo devedor, ignorando os juros e taxas daquele mês.
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Isso faz com que a base de cálculo dos juros caia imediatamente, gerando uma economia exponencial ao longo do tempo.
Amortização no Brasil: Os Dois Principais Sistemas de Pagamento
A forma como a amortização é distribuída dentro da parcela depende do sistema de pagamento do seu contrato. Os dois mais comuns no Brasil são o SAC (Sistema de Amortização Constante) e a Tabela Price.
1. Sistema de Amortização Constante (SAC): O Favorito do Financiamento Imobiliário
No sistema SAC, o nome já diz: a parcela de amortização (a parte que paga o principal) é constante ao longo de todo o contrato.
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Composição da Parcela:
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No início, os juros são muito altos (pois incidem sobre o saldo devedor total), e a amortização é fixa.
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Com o tempo, o saldo devedor diminui, os juros caem, e, consequentemente, o valor total da parcela diminui progressivamente.
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Vantagem: O valor total pago em juros ao final do contrato é menor do que na Tabela Price, pois o saldo devedor é pago mais rapidamente no início.
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Ideal para: Pessoas que buscam a maior economia total de juros, que esperam ter uma renda maior no início do contrato (suportando parcelas maiores) e uma renda menor no futuro (aproveitando as parcelas decrescentes).
2. Tabela Price: As Parcelas Fixas do Empréstimo Pessoal
A Tabela Price (ou Sistema Francês de Amortização) é caracterizada por ter parcelas de valor fixo (desconsiderando a correção monetária por índices como o IPCA).
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Composição da Parcela:
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No início do contrato, a maior parte da parcela é composta por juros, e a amortização é muito baixa. Por isso, dizemos que a dívida “anda devagar” no começo.
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Ao longo do tempo, a parcela se mantém fixa, mas a proporção muda: a parte de juros diminui, e a parte de amortização aumenta progressivamente.
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Vantagem: Oferece maior previsibilidade e planejamento, pois as parcelas são sempre do mesmo valor.
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Ideal para: Empréstimos de curto e médio prazo, como crédito pessoal e financiamento de veículos, onde a previsibilidade mensal é prioridade.
Amortização Estratégica: Reduzir Prazo ou Reduzir Parcela?

Quando você decide fazer uma amortização extra, o banco lhe dará duas opções. A escolha depende puramente dos seus objetivos financeiros.
1. Amortizar Para Reduzir o Prazo (A Opção Mais Inteligente)
Esta é a estratégia mais recomendada por especialistas em educação financeira.
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Como Funciona: O valor amortizado é usado para eliminar as últimas parcelas do seu contrato. O valor da sua parcela mensal não muda, mas a duração total da sua dívida é reduzida drasticamente.
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Por Que é Poderoso: Ao eliminar as últimas parcelas, você está deixando de pagar os juros futuros que seriam calculados sobre o saldo devedor remanescente naquele período. Isso gera a maior economia total possível.
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Exemplo: Com uma amortização de R$ 10.000,00, você pode economizar 5 anos do seu financiamento, o que representa uma economia gigantesca em juros.
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Recomendado Para: Quem busca a quitação mais rápida do financiamento e a maior economia total de juros.
2. Amortizar Para Reduzir o Valor da Parcela
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Como Funciona: O valor amortizado reduz o saldo devedor e o banco recalcula o valor das parcelas remanescentes, mantendo o prazo original do contrato.
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Vantagem: Suas parcelas mensais diminuem, liberando dinheiro no seu orçamento para outras despesas ou investimentos.
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Recomendado Para: Pessoas que estão com o orçamento apertado, buscam alívio imediato no fluxo de caixa ou têm receio de que sua capacidade de pagamento diminua no futuro.
A Importância da Amortização Antecipada para Seu Score de Crédito
A amortização não é apenas uma ferramenta de economia; ela também tem um impacto significativo em seu perfil de crédito e na sua capacidade de acessar futuros empréstimos e cartões de crédito.
Impacto no Endividamento e Score
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Redução do Comprometimento de Renda: Ao amortizar e reduzir o saldo devedor, você diminui a proporção da sua dívida em relação à sua renda. As instituições financeiras avaliam a sua capacidade de pagamento (ou comprometimento de renda) de forma mais favorável.
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Disciplina Financeira: O ato de amortizar demonstra ao mercado (e ao seu Score de Crédito) que você é um pagador disciplinado e proativo na gestão de suas obrigações financeiras.
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Facilidade de Novos Créditos: Com um saldo devedor menor e um histórico de pagamentos antecipados, você se torna um cliente de menor risco. Isso se traduz em melhores taxas de juros em futuros empréstimos ou na aprovação de limites de crédito maiores em cartões.
O Papel do FGTS na Amortização Imobiliária
No Brasil, o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) é uma poderosa ferramenta para acelerar a amortização de financiamentos imobiliários.
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Uso Imediato: O saldo do FGTS pode ser usado a cada dois anos para reduzir o saldo devedor do seu financiamento, o que elimina juros futuros e diminui o prazo ou o valor das parcelas.
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Aliviando o Orçamento: Muitos utilizam o FGTS para quitar algumas parcelas de uma só vez ou para fazer a amortização estratégica, transformando um financiamento de 30 anos em 15 ou 20 anos, proporcionando uma economia gigantesca na vida do mutuário.
Amortizar é Investir na Sua Liberdade Financeira

A amortização é o motor que realmente faz a sua dívida diminuir. Enquanto a maior parte da sua parcela inicial vai para o bolso do banco na forma de juros, o pagamento do capital principal é o seu investimento na redução do passivo.
Ao entender e planejar suas amortizações, seja utilizando recursos extras como o 13º salário, bonificações ou o saldo do FGTS, você assume o controle da sua vida financeira. Você está trocando a dívida futura por liquidez e tranquilidade presente, garantindo que o seu dinheiro trabalhe para você, e não para o banco.
Lembre-se: Em uma dívida com juros, o melhor investimento que você pode fazer é pagar a dívida mais cara o quanto antes. A amortização é o veículo para atingir essa meta.